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Que ecos são esses que me aprisionam? Eu falo e sinto os sons do passado. São ecos meio dissones. Como se eu lembrasse apenas dos instantes: instante infinito. Uma amnésia particular que só eu e eu vamos lembrando aos poucos e esquecendo novamente. E aí eu canto dissonante e renasço a cada lembrança que vem de outrora e do futuro também: por isso sou caleidoscópico. Eu giro e giro. Mudo de cor. E Deus com seu diapasão dá o tom perfeito. Só que eu sou rebelde e insisto desafinado. Aí os ecos voltam novamente, por insistência minha, só para eu sentir Deus mais uma vez.
"...Uma poça contém um universo. Um instante de sonho contém uma alma inteira." Gaston Bachelard

Caio F.: um morango adocicado - ( 25/02/2013 )




À beira do abismo eu senti Caio Fernando Abreu. Talvez por sua escrita tão singular e profunda que me senti o próprio escritor da paixão. Ele não era o rapaz mais triste do mundo, era aquele que queria preencher apenas um vazio deixado por um “amor que no passado não matava”: era intenso. E sua intensidade mostrava que lá no final do túnel da vida havia uma luminosidade.
O pessimismo não existia em Caio F., apesar da opressão do mundo. Ele era talvez um anjo redimido, tentando resgatar suas asas quando decidiu se tornar humano. Doía estar aqui sem ser daqui: ele era “diferente”, enxergava com beleza o inaudível som do grotesco, pois sua sensibilidade era exultante e caleidoscópica: só quem é diferente sente os cinco sentidos em apenas um órgão com tanta suavidade. E foi aí com a sua escrita que ele (re)aprendeu a voar e voar...
Dezessete anos que ele nos deixou (ele conhecia o paraíso), porém continua a nos mostrar coisas belas e de uma forma que nossa miopia se equilibra com a sua escrita que diz “sim”, é possível uma vida digna e de libertação. Não era um morango mofado, como o título de um de seus livros, era apenas um pouco azedinho (e quem não é?), porém sua escrita era (é) doce: precisava apenas mergulhar o morango no chantilly. E esse mergulho só percebe quem o desnuda na sua completude.
À beira do mar olhei a linha do horizonte e lembrei-me de uma de suas frases sobre a morte: “Agora estou muito ocupado, não tenho tempo para morrer”. Caio continua vivo, só está um pouco ocupado em outros ares, quem sabe em júpiter “onde as almas são puras e a transa é outra.”

Dayvson F. (o “F” é de Fabiano)


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1 comentários:

Jack Borandá disse...

Incrível que hoje mesmo fiquei lembrando de como Caio foi importante pra mim e como ele me marcou e como sinto falta de suas leituras. Ler teu texto foi reconhecer o sentimento que eu sinto também por ele.

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