À beira do abismo eu senti
Caio Fernando Abreu. Talvez por sua escrita tão singular e profunda que me
senti o próprio escritor da paixão. Ele não era o rapaz mais triste do mundo,
era aquele que queria preencher apenas um vazio deixado por um “amor que no
passado não matava”: era intenso. E sua intensidade mostrava que lá no final do
túnel da vida havia uma luminosidade.
O
pessimismo não existia em Caio F., apesar da opressão do mundo. Ele era talvez
um anjo redimido, tentando resgatar suas asas quando decidiu se tornar humano.
Doía estar aqui sem ser daqui: ele era “diferente”, enxergava com beleza o
inaudível som do grotesco, pois sua sensibilidade era exultante e
caleidoscópica: só quem é diferente sente os cinco sentidos em apenas um órgão
com tanta suavidade. E foi aí com a sua escrita que ele (re)aprendeu a voar e
voar...
Dezessete
anos que ele nos deixou (ele conhecia o paraíso), porém continua a nos mostrar
coisas belas e de uma forma que nossa miopia se equilibra com a sua escrita que
diz “sim”, é possível uma vida digna e de libertação. Não era um morango
mofado, como o título de um de seus livros, era apenas um pouco azedinho (e
quem não é?), porém sua escrita era (é) doce: precisava apenas mergulhar o morango
no chantilly. E esse mergulho só percebe quem o desnuda na sua completude.
À beira do
mar olhei a linha do horizonte e lembrei-me de uma de suas frases sobre a
morte: “Agora estou muito ocupado, não tenho tempo para morrer”. Caio continua
vivo, só está um pouco ocupado em outros ares, quem sabe em júpiter “onde as
almas são puras e a transa é outra.”
Dayvson F. (o “F” é de Fabiano)
1 comentários:
Incrível que hoje mesmo fiquei lembrando de como Caio foi importante pra mim e como ele me marcou e como sinto falta de suas leituras. Ler teu texto foi reconhecer o sentimento que eu sinto também por ele.
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